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Alemanha, 2012

Visitei o país em julho de 2012. Diferente de quando estive por lá aos 20 anos e vi um país sombrio, acanhado, bastante destruído ainda pela guerra, uma gente triste vagava nas ruas com vergonha de sua história. Nas últimas vezes, entretanto, deparei com o contrário. Reconstruíram tudo - danados - e sabem que vivem no melhor país do mundo no tocante à funcionalidade, à eficiência, e à segurança. Os alemães de agora andam de cabeça erguida, são alegres e gentis. Estão lá na frente em termos de sustentabilidade. A água que sai da torneira é gostosa, leve, pouquíssimo tratada. Os rios são limpos. Nas feiras e supermercados as frutas e verduras são na maior parte orgânicas ou não serão compradas. Pelas estradas se vê cata-ventos sem fim produzindo energia eólica, e quilômetros de placas de energia solar. Se houver demanda para carros elétricos, eles sabem fazer, se for à gás, tb; qq energia limpa que o mundo for obrigado a escolher eles terão expertise pra fabricar. E tudo é arrumado, organizado, facilitado, ninguém responde o que não sabe, a vida é um sossego. Falta charme, vá lá, mas percorri vilas e vilarejos, não as metrópoles, há que se dar um desconto. Além do mais, o que falta em borogodó sobra em civilidade.
Espantou-me a quantidade de deficientes físicos nas ruas, não compreendi a razão de tantos, e, desacompanhados muitas vezes. Me explicaram: é porque podem. As ruas, as lojas, os carros, o transporte público, os banheiros, todo canto é preparado para recebê-los. Sentem-se seguros e saem pra se divertir. Como toda gente. Não há limite de velocidade nas autoestradas, as autobahns são perfeitas. São poucos os obesos e não se vê gente magra demais. Pode-se fumar em lugares abertos mesmo se cobertos. Não há lixo nas calçadas, não há mendigos pedindo coisas nem lamentando a falta de emprego ou exibindo feridas horrendas. Ninguém grita ou fala alto em lugares públicos. Não há fome.
A viagem começou com ensaios gerais de óperas de Wagner, na cidade de Bayreuth. Quatro delas, uma a cada dia, e acompanhada de meus amigos Vittorio e Ivaldo Bertazzo. Surpreendentes novos conceitos na criação atual do gênero, só mesmo a música precisa se manter inalterada, e isso produz um estranhamento fascinante. Paul, amigo de quando tínhamos 13 e 14 anos de idade, se juntou a nós no último dia. Segui com ele pra feira internacional de arte contemporânea em Kassel, a Documenta; bárbara, do tipo, ou vc abre a cabeça ou... abre a cabeça. Dali, pra região de Mosel com uma parada no monastério budista - da linha do Tich Nchat Hanh - em que Paul resolveu viver (para absorver, sorver, compreender, vc entendeu) de um ano pra cá. Estar ali, meditar, comer vegan com os monges, sempre em silêncio absoluto, cantar, rir, partilhar, foi descondicionante (existe a palavra?) e cheio de paz e amor como só os budistas, com sua sábia filosofia, conseguem fazer na gente em tão pouco tempo. As bikes estavam dentro do magnífico sólido deutsch Audi, sempre q deu vontade passeamos com elas pelas vilazinhas, às margens do Rio Mosel, por onde fosse. De carro atravessamos a Bélgica, paramos em Spa, seguimos pela Holanda, até chegar em Amsterdam. Ao entrar na Holanda o sistema de navegação avisa que estamos a 10 metros abaixo do nível do mar.

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