Fui passar um dia em Berlim Oriental, bem antes da queda do muro. Para quem não gosta de cinza aquilo parecia o fim da humanidade. Ao contrário da Berlim de cá, vibrante e cosmopolita, a de lá era uma cidade deprimida, presa ao fantasma de um Lenim pregado à parede de cada estabelecimento público. Não sei o que me deu, minhoca na cabeça, resolvi trocar dolar no câmbio negro. Esqueci que haviam contado meu dinheiro na fronteira e q teria de prestar contas. Na volta, os valores não batiam e pra piorar eu havia deixado minha mochila na estação de trem e perdido a chave do armário. Os guardas queriam me prender. Nervosa, não me vinha à mente palavra alguma em alemão além de kaput. Kaput era a minha idéia de como sugerir a eles que explodissem o armário para me restituir a bagagem, únicos pertences de uma vida de viajante! Depois de muita gestikulaçon, enrolaçon, kaputs e semelhantes, consegui ir embora em liberdade. A mochila é claro, ficou.