Lençóis Maranhenses - maio de 2013
Estou em turnê com À beira do abismo me cresceram asas. Após as sessões, lanço nos foyers, o último livro, É duro ser Cabra na Etiópia, e aproveito pra trocar impressões com o público. Fizemos três apresentações em São Luís do Maranhão, Theatro Arthur Azevedo, lindíssimo. Na segunda feira, ao acordar, nos mandamos pros Lençóis Maranhenses, lá pro meião dele, lugares em q não se vê uma alma, até os bichos são poucos, uma ave aqui, outra lá, uns animaizinhos minúsculos mimetizando a areia branca. É o canto mais lindo do mundo. Imagine um deserto daqueles de cinema, mas, em cada depressão da areia, uma lagoa azul de água doce, potável. Clarisse, companheira de cena, levou a filha Nina, e fomos pousando por lagoas pristinas, as que pareciam mais lindas, como se alguma não o fosse. Era um luxo poder escolher, e, simplesmente descer naquele esplendor de silêncio e paz. Viva o helicóptero e o amigo que o emprestou. Paramos por um tempo, não sei quanto – o tempo é irrelevante ali onde os valores são todos outros – mas pousamos em uma comunidade rústica sem internet, telefone, ou luz elétrica. Conversamos com Walter e a mulher, e a mãe da mulher... Conversa calma de quem não tem qq compromisso nem terá. Na Queimada dos Paulos há 5 moradas, e os Paulos são uma única família que se casa entre si. Dia seguinte, navegamos pelo Rio Preguiça parando nos vilarejos ribeirinhos e dormimos algumas noites em Atins, com direito a passeio pelas dunas em noite de lua cheia ciceroneada por Buna, um filho de coronel que se cansou da cidade, construiu por ali uma pousada com materiais recicláveis encontrados nas praias e redondezas, e criou um canto esplêndido pra si e seus hóspedes. Está lá há 30 anos tocando aquilo sem querer voltar. Voltar pra que? O retorno do paraíso foi de quadricíclo; quatro horas atravessando o deserto, movidos por emoções de alta voltagem. As fotos falam o q as palavras calam. Nada como um cliché para arrematar tão primárias sensações.