É verão. Fica tudo claro e colorido. Podia ser lindo se não fosse o mar cor de cana por conta do esgoto e da sujeirada que os cidadãos despejam nas águas, e que o governo não limpa e nem limpará dado o volume em que deixaram a imundice chegar. Podia ser lindo se não fossem as ruas fedorentas. Se não fossem os maltrapilhos jogados pelas calçadas em condições sub-humanas, se não fossem as mortes dos inocentes, se não fossem…
Houve uma festa selvagem em frente a minha casa há poucos dias. Um bloco de rua se aglomerou aos milhares na praia mais conhecida do mundo, cartão postal do Rio de Janeiro. Acharam que Copacabana era um bom lugar pra juntar gente que se regozija na confusão. Havia um formigueiro de pessoas bêbadas, cheirando cocaína, fumando crack, urinando e defecando na calçada. Vendia-se comida de procedência duvidosa, gritavam como se o mundo fosse acabar, pulavam e praticavam sexo ao ar livre. Pouca gente de fato usufruía dos cantores pagos a preço de ouro, posto que a motivação mais excitante era depredar. A empresa que organizou tal evento achou boa ideia reutilizar o palco que sobrou do réveillon, sem considerar que este local, em que moradores – na maioria idosos – pagam o maior IPTU do mundo, não oferece condições segura para eventos de natureza selvagem. Havia patrocinadores de peso, pois não se enganem, esses eventos nada tem a ver com os ingênuos blocos de carnaval, com foliões cantando dançando e brincando alegremente. Essas aglomerações com chamariz musical, são pretexto para vender marcas de consumo. Os envolvidos ganham um dinheirão. Lucraram aos baldes e agora, passadas duas semanas as calçadas – onde outrora se andou descalça – continuam coalhadas de vidros quebrados e imundices diversas. Dizem que não ganharam nada com tal evento, fizeram de boa fé pra alegrar a população. Sim. E como exatamente, esses “organizadores” conseguiram que a prefeitura autorizasse tal feito? Foi na conversa apenas? E nessas conversas, ninguém sugeriu que seria mais seguro situar tal apresentação na Área do Rock n Rio, ou no Sambódromo que o contribuinte custeou para esse objetivo?
Uma bomba de gás perfurou a janela do meu vizinho, morador do 12º andar. A bomba estourou na sala dele onde a mãe de 90 anos se senta pra olhar o movimento da rua. Por sorte não estava ali naquele instante. Mas ele estava, e passou 20 minutos em meio a uma massa branca de fumaça, atordoado, sem enxergar nada nem saber se sua casa estaria pegando fogo.
Manchete do jornal hoje: Custo de manutenção e vandalismo tiram bikes e patinetes das ruas.